“Quão saborosas são para mim vossas palavras, mais doces que o mel à minha boca” (Sl 118, 103).
Irmãos e irmãs, iniciamos o mês de setembro, mês dedicado à Palavra de Deus. Com esta intenção a Igreja pretende colocar a Palavra de Deus em evidência, tanto no processo de formação, quanto de celebração e de compromisso missionário. Ao dedicarmos um mês especial à Bíblia, o dedicamos à Palavra de Deus: de um Deus que busca o ser humano e dialoga com seu povo; que deseja encontrar-se com a pessoa humana para fazê-la participante de sua vida divina.
A Igreja no Brasil dedica todo o Mês de Setembro a Bíblia. Sem dúvida é uma iniciativa muito salutar. A motivação provém do fato da Igreja celebrar no dia 30 de setembro a memória do grande santo e doutor da Igreja, São Jerônimo, que a pedido do Papa Dâmaso (366-384) preparou uma excelente tradução da Bíblia em latim, a partir do hebraico e do grego, a chamada Vulgata. Foi um trabalho gigantesco que demandou cerca de 35 anos nas grutas de Belém, onde ele realizava esse ofício, vivendo uma austera vida de oração e penitência. São Jerônimo dizia que quem não conhece os Evangelhos não conhece Jesus.
Neste ano de 2021, a Igreja nos propõe para estudo e oração a Carta do apóstolo dos gentios, São Paulo aos Gálatas, inspirados pelo tema: “pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). Com o intuito catequético e evangelizador, realizaremos uma carreata bíblica no último domingo de setembro, dia 26, motivados pela comemoração jubilar dos 50 anos desta celebração no Brasil.
Endereçada não apenas a uma comunidade, mas a várias, Gálatas foi escrita por um Paulo profundamente indignado e irado diante das calúnias e ataques que “intrusos, falsos irmãos” (Gl 2,4) lhe desferiam pelas costas no meio das comunidades da região da Galácia, alegando que ele não era Apóstolo, que inclusive os não-judeus deveriam se circuncidar e cumprir a Lei judaica, como condição para participar das comunidades cristãs. Essas acusações e questionamentos ao seu Evangelho anunciado não afetavam apenas Paulo, mas caso não fossem desmascarados, podiam implodir as comunidades cristãs que se inspiravam no ensinamento e testemunho de Paulo.
Entre os diversos meios para o encontro com o Senhor, a Palavra recebe destaque particular, pois é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja, tornando a Palavra viva, eficaz e eterna. Ela deixa de ter simples caráter doutrinário ou orientativo, pois nela podemos encontrar-nos com Alguém, que tem identidade, rosto e nome: Jesus Cristo, o Verbo (a Palavra) que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14). Por isso a Igreja afirma: “Sempre Cristo está presente em sua Palavra… A Palavra de Deus, portanto, constantemente anunciada na Liturgia, é sempre viva e eficaz pelo poder do Espírito Santo e manifesta aquele amor ativo do Pai que jamais deixa de agir entre os homens e as mulheres” (Bento XVI acrescenta no documento Verbum Domini: “Que a Bíblia não permaneça uma Palavra do passado, mas uma Palavra viva e atual” (VD 5).
“Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para argumentar, para corrigir, para educar conforme a justiça” (2Tm 3,16). A Bíblia foi escrita por pessoas chamadas e escolhidas por Deus e que foram inspiradas através do Espírito Santo. Ela revela o projeto de Deus para o mundo; serve para que todos possamos crescer na fé e levar uma vida de acordo com o projeto de Deus. Por isso, ela é a grande “Carta de Amor” de Deus à Humanidade.
A Palavra de Deus nos revela o rosto de Deus e seu mistério. Ela é a história do Deus que caminhou com seu povo e do povo que caminhou com seu Deus. A Bíblia tem uma longa história, desde nossos pais e mães da fé (Abraão e Sara, Isaac e Rebeca, Jacó Lia e Raquel) passando por Moisés, pelos Profetas, até a vinda do Messias, e por fim a morte do último dos Doze Apóstolos quando foi escrito o último livro da Bíblia (o Apocalipse, escrito no final do I século). A Palavra de Deus demorou em torno de dois mil anos para ser escrita. Muitas pessoas fizeram parte desta história: homens, mulheres, crianças, jovens, anciãos… Por isso, podemos dizer que a Bíblia é um livro feito em mutirão.
A Palavra ouvida com fé é para nós fonte de vida espiritual, alimento da oração, luz para conhecer a vontade de Deus nos acontecimentos e força para viver com fidelidade a nossa verdadeira vocação de cristãos.
A Palavra de Deus deve tocar nossos ouvidos (escutá-la), descer ao nosso coração (acolhê-la), passar pelas nossas mãos (praticá-la), sair de nossa boca (proclamá-la). Isso faz brotar quatro sérias exigências: o dever de nos educarmos ao silêncio, reconhecer a nossa pobreza radical, testemunhar a Palavra e empenharmo-nos em difundi-la com zelo.
Jesus enviou os discípulos dois a dois em missão para levarem a sua Palavra e anunciarem o Reino de Deus. Assim ele nos envia hoje para sairmos em missão anunciando a sua Palavra e procurar as ovelhas perdidas, aqueles que foram batizados e não frequentam mais a Igreja, que não professam mais a sua fé. Somos convidados por Jesus a encorajar essas pessoas por meio da Palavra, para que elas se animem novamente e voltem a viver a sua vida de fé.
Que esse mês da Bíblia nos motive a colocarmos em prática na nossa vida diária a Leitura da Palavra de Deus e que ela nos encoraje para a missão que Deus nos chama de amar sem medidas o nosso próximo e abra os nossos olhos para necessidade dos nossos irmãos e possamos abrir as mãos para suprir as suas necessidades.
01 de setembro de 2021
Pe. Ueliton Neves da Silva
Pároco