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Itabira, 12 de maio de 2024

Procissão do Encontro: a ousadia da fé

10/04/2023 . Notícias da Paróquia

“Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos!” (Lc 23,28)

No Evangelho de Lucas, essas estão entre as últimas palavras do Senhor no percurso do Calvário. Mais um beliscãozinho de Jesus que, até o fim, nos dá o exemplo de que é preciso enxergar o próximo e suas aflições – ainda quando também nós experienciamos o sofrimento.

Com a carne aberta em chagas, esgotado física e emocionalmente, Cristo não se furta de acalentar o coração daquelas que acompanhavam uma das mais trágicas cenas de brutalidade e humilhação destinada a um inocente.

É neste caminho da Via Crucis que, entre as tantas mães as quais se dirige Jesus, nós católicos destacamos, com a Procissão do Encontro, a figura materna de Maria, Senhora das Dores.

Um roteiro para manter viva a tradição

Não há relatos em nenhum dos evangelhos sobre esse encontro de Maria com Jesus no caminho do Calvário. Mas João (19,25) afirma que “perto da cruz de Jesus, permanecia de pé sua mãe…”

A partir de uma piedosa tradição popular, nos tornamos partícipes desse momento celebrado a cada Semana Santa. Em Itabira, são três dias para a culminância.

Na segunda-feira, 03/04, após a Santa Missa na Catedral Diocesana Nossa Senhora do Rosário, presidida pelo Pe. Adriano Mendes de Pinho, a imagem do Senhor dos Passos seguiu para o depósito. Após a missa presidida pelo Pe. Ueliton Neves da Silva, no Santuário São Geraldo Majela, a imagem foi acolhida no interior do Templo e seguiu em procissão para o depósito para a Igreja de São Geraldo, no bairro Major Lage de Baixo.

Na terça-feira, dia 04/04, a imagem de Nossa Senhora das Dores, seguida por uma centena de fiéis em procissão, saiu da Matriz Nossa Senhora da Saúde, depois da Santa Missa presidida pelo Padre Paulo Marcony Duarte Simões, para a Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Vila Amélia, onde permaneceu até a noite de quarta-feira, quando saiu para o encontro com o Senhor dos Passos.

 O Encontro

Há sempre alguma coisa em dias celebrativos, indiferente se festivos, introspectivos ou reflexivos, que parecem propositalmente preparados pelo próprio Deus – seja para nos arrancar da inércia, seja para nos afagar.

Dos afagos, fico com a lua. Escandalosa!

Para nos sacudir, dois momentos únicos interligados pelos dedinhos precisos do Espírito Santo. A saber: uma homilia e um sermão!

O Sermão

Na noite da quarta-feira santa, 05 de abril, Pe. Ueliton Neves da Silva presidiu a missa na Igreja São Geraldo Majela e o Pe. Paulo Marcony Duarte Simões presidiu a missa na Igreja Nossa Senhora de Fátima. Após as missas, as imagens foram conduzidas em procissão para o encontro. A imagem de Nossa Senhora das Dores saiu da Igreja Nossa Senhora de Fátima e a imagem do Senhor dos Passos saiu da Igreja São Geraldo Majela.

O Sermão do encontro foi proferido pelo Pe. Ueliton Neves. Além dos muitos fiéis presentes, participaram do sermão os padres Edson, Paulo e Renato e os diáconos permanentes Alisson, Bruno e Júlio. Sobre o sermão: poucas vezes ouvi tantas palavras das quais posso afirmar: nenhuma delas se perdeu!

Tradicionalmente, após o encontro das duas imagens/procissões – do Senhor dos Passos com Nossa Senhora das Dores -, acontece o “Sermão”. Este ano, na Av. Mauro Ribeiro, próximo ao Santuário São Geraldo Majela.

Seria impossível adentrar em todos os detalhes do sermão – que merecia, diga-se, ser publicado na íntegra.

Abaixo, antes de fazer meu próprio recorte, seguem alguns trechos proferidos por Padre Ueliton.

Muitas mães fazem a experiência do Calvário neste dia. Assim como Maria, também essas mães choram. – em referência a tragédia que aconteceu eu uma creche de Blumenau (SC), resultando na morte de 4 crianças.

A vocação da Igreja é seguir a ordem de Jesus: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer!’ (Mt 14,16) – em referência à Campanha da Fraternidade deste ano.

Deus se identifica com os que sofrem, passam fome, estão nus. No final, o que será levado em conta não são as nossas práticas religiosas, mas a nossa atitude diante do próximo, do sofrimento injusto dos últimos da terra: os excluídos. O critério para entrar nos céus não é o que fizemos ou deixamos de fazer para Deus, mas o que fizemos ou deixamos de fazer para nossos irmãos e irmãs. Esta é a verdadeira religião!

A imagem de Deus mais surpreendente encontrada nos Evangelhos é que Ele se fundiu com o humano. Deus se funde e se confunde com todo ser humano.

– Maria é essa mulher que esmaga a cabeça da serpente. É bendita entre todas as mulheres.

E, agora, sigo com o meu recorte sobre Simão, o Cirineu, também lembrado no sermão.

Ao ouvir a palavra “Cirineu”, fui arrancada daquele lugar extasiado – de quem é tão espectador quanto qualquer fiel e devoto que participa do Encontro -, para relembrar meu próprio caminho quaresmal deste ano.

Um dos momentos mais reflexivos e emotivos desta caminhada, ouvi a seguinte frase: “às vezes tudo que podemos ser para o outro é um Simão de Cirene”. O fato de tê-la ouvido de uma pessoa pela qual tenho profundo respeito e considero de grande sabedoria me deixou mais aflita do que aliviada pela situação em que foi proferida.

Ser Simão de Cirene é, como disse Padre Ueliton, “colaborar com Cristo no plano da salvação”. É de uma responsabilidade gigantesca.

Homilia e Sermão se deram as mãos, tal como Mãe e Filho devem fazer hoje lá no mais alto dos céus.

Toda Semana Santa, quando interiormente buscamos realmente experienciar em nosso coração os últimos passos do Deus feito Homem, algo de muito profundo brota e, com graça, permanece como lição para os dias vindouros.

Estas duas lições, Maria de pé diante da cruz e Simão carregando a cruz com Jesus, são meus aprendizados. Ainda há tempo, até o domingo da Páscoa, para outros…

O título: “a ousadia da fé”

Haveria outras várias possibilidades de um título melhor para o leitor que não participou das procissões e nem presenciou O Encontro.

Mas como o título não comporta as dezenas de sensações, impressões e imagens que saltam aos olhos em momentos como esse (nem o texto é capaz disso), ter fé no mundo de hoje é sim uma ousadia.

Maria ousou ficar de pé aos pés da cruz porque não abandonou sua fé nas promessas de Deus. Pedro reconheceu sua fé ao retornar a Jesus depois de negá-lo por três vezes. A exceção de Judas Iscariotes, todos os apóstolos retomaram seu caminho acolhendo o plano de Jesus para a salvação.

A fé é boa parte do que nos move. A perseverança é o que nos faz avaliar os erros e retomar o caminho certo. E a caridade… esta é o que nos faz olhar para a cruz e entender porque o amor tudo pode.

Que venha, então, a ressurreição!

Texto: Liliene Dante
Fotos da procissão e sermão: Pascom da Paróquia Nossa Senhora da Penha
Fotos da Terça: Pascom da Paróquia Nossa Senhora da Saúde