“Porei em vós meu espírito e vivereis” (Ez 37,14)

Queridos irmãos e irmãs,

Com grande alegria, iniciamos o mês de setembro, um período especial em que a Igreja no Brasil celebra o Mês da Bíblia. Este ano, somos convidados a mergulhar nas profundezas do Livro de Ezequiel, guiados pelo inspirador lema: “Porei em vós meu Espírito e vivereis” (Ez 37,14). O profeta Ezequiel nos traz mensagens de esperança e renovação, especialmente em tempos de dificuldade e desânimo. Em suas visões, Deus promete restaurar e revitalizar seu povo, trazendo vida nova e um espírito renovado.

No contexto histórico do escrito, Ezequiel tem como pano de fundo o exílio da Babilônia, ocorrido no século VI a.C. Período onde houve deslocamento da referência social, religiosa e nacional dos israelitas por cerca de meio século. Além de todas as implicações sociais e políticas, a deportação gerou uma crise religiosa para o povo: a fé de Israel estava ligada à terra recebida em promessa e à aliança com um Deus guerreiro.

Ezequiel é profeta de origem sacerdotal, de atuação na corte e que prega temas semelhantes aos do primeiro Isaías: Deus de Israel (poderoso, glorioso e transcendente); Davi como protótipo ideal de rei; monarquia e liderança davídica defensora da justiça; reunificação de Judá (Sul) e Israel (Norte) e reconhecimento divino nacional “Eu sou Javé” (Ez 7,9). (2014, p. 1033).

O livro apresenta para nossos dias uma atualidade de interpretação. Se Ezequiel alertou e “esperançou” seus contemporâneos, sua palavra ressoa hoje com força renovadora para uma Igreja servidora, profética, em saída, sinodal e que nasce do vigor batismal. Ilumina o texto profético:

“Derramarei sobre vós uma água pura e vocês ficarão purificados. Purificarei vocês de todas as suas imundícies e de todos os seus ídolos. Darei a vocês um coração novo e colocarei um espírito novo dentro de vocês. Tirarei o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. […] Vocês serão o meu povo, e, eu serei o Deus de vocês!” (Ez 36,25-26.28b).

A celebração do Mês da Bíblia, em todo o Brasil, é expressão de sinodalidade. Cada livro Bíblico tem sua própria mensagem,  contexto histórico e ensinamentos, e estudá-los anualmente proporciona crescimento espiritual e, principalmente fortaleza no testemunho autêntico.

Este é um convite para cada um de nós, para que possamos abrir nossos corações e mentes à Palavra de Deus, permitindo que ela transforme nossas vidas e comunidades. Nos encontros bíblicos deste mês, seremos conduzidos por temas que nos ajudam a refleti r sobre nossa fé, missão e a presença constante de Deus em nossas vidas. Aprofundemos nossa compreensão das Escrituras e busquemos aplicar seus ensinamentos em nosso cotidiano.

Que este Mês da Bíblia seja um tempo de crescimento espiritual, comunhão e renovação para todos nós. Que possamos, à imitação de Ezequiel, ouvir e acolher a voz de Deus, permitindo que seu Espírito nos conduza a uma vida plena e verdadeira. Com fé e esperança, iniciamos esta jornada juntos.

Meus irmãos, minhas irmãs, a aproximação da Sagrada Escritura acontece de forma privilegiada pelo exercício da leitura orante da Palavra de Deus, servindo-se de métodos apropriados a isso. Um método reconhecido e recomendado pela Igreja é o da Lectio divina, que acontece em quatro momentos básicos: leitura, meditação, oração, contemplação/ação. É fundamental que o encontro com a Palavra de Deus aconteça dentro de uma experiência de fé, para que seu conteúdo seja alimento do espírito e não somente da inteligência. Cultivar a fé por meio da oração favorece um olhar diferente para a Bíblia.

Esforcemo-nos para participarmos das formações bíblicas, compreendendo sua natureza e servindo-se delas como mediação para o diálogo com Jesus Cristo.

Que a animação bíblica da vida e da pastoral possa acontecer também por meio da participação nos grupos que se reúnem em torno da Palavra de Deus para refleti-la, chamados Grupos de Reflexão, Igreja nas casas, Paróquia em missão etc. Participar destes grupos ajuda muito na intimidade com a Bíblia.

Itabira, 03 de setembro de 2024

Pe. Ueliton Neves da Silva
Pároco